quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Taboo

Ok. Sabe quando você assiste a um filme que te deixa completamente frustrado? Tanto que, por um breve momento, você vislumbra a realidade das coisas nesse mundo, e isso dói pra caramba?? Eu abri os olhos essa manhã com um pensamento fixo: preciso falar sobre Gohatto. EU PRECISO. Preciso colocar pra fora meu desespero e minha dor. *red alert* *red alert* Jaques vai começar a exagerar de novo.
Oras.... a essa altura do campeonato, já deveriam saber: eu nunca exagero, eu só me envolvo de mais. E esse é um filme que merece todo o envolvimento possível, pois transforma as pessoas.

Gohatto ("Taboo"), filme de 1999, dirigido por Nagisa Oshima, conta a história de Sozaburo Kano, um jovem que integra a milícia dos samurais ao final do período Shogun no Japão, período esse que já se encontrava enfraquecido pelas forças reformistas. Apesar de apresentar grande habilidade como espadachim, o que revela de fato seu poder diante dos demais samurais é sua incomparável beleza, que causa grande tensão entre os integrantes do grupo Shinsengumi, do qual faz parte.
Kano controverte todo o código honra samurai ao representar um personagem extremamente sensual e feminino na posição de um guerreiro capaz de enfraquecer e, até certo ponto, controlar os homens à sua volta. Ryuhei Matsuda fez um ótimo trabalho encarnando esse personagem tão frio e misterioso. As expressões em seu rosto se assemelham por vezes às de uma gueixa entediada, o que o torna ainda mais atraente aos olhos de seus companheiros.
Esse é um filme passível de várias interpretações, tanto do ponto de vista histórico (que poderia considerar Kano como um espião mandado para desintegrar a milícia), quanto do ponto de vista cultural (e aí entraria de fato o tabu, uma vez que estaria expondo a fragilidade da milícia samurai - maior exemplo de instituição japonesa - diante da beleza de um jovem), o que me leva a apontar um pequeno defeito com relação a sua estrutura. Há uma espécie de narração no estilo cinema-mudo nos primeiros 45 minutos do filme e depois essa narração..... some. O.o Weird. Outro problema foram as dicas sobre o enredo apresentadas nessas narrações, o que acaba direcionando a visão do telespectador, impedindo-o de fazer uma consideração mais ampla dos fatos. Isso dito, let's move on.
A gentchi sabemus que normalmente filmes asiáticos são bastante....sutis. Não espere que o enredo seja mastigado e cuspido na sua cara, porque ele não será. Na verdade, as explicações da narração me preocuparam exatamente por isso. Não se explica em palavras as ações de um filme como Gohatto. Penso que é bem mais uma questão de sentir, ou de analisar as expressões enigmáticas de cada personagem, aí está a verdadeira beleza do filme: o impenetrável. Da mesma forma, a combinação "frieza, crueldade e beleza" de Kano fez com que....bem.... eu não conseguisse desviar os olhos nem por um segundo.
Estão também presentes no elenco o fodástico Takeshi Kitano ("Zatoichi", "Brother"), como o vice-comandante Hijikata Toshizo, o ótimo Tadanobu Asano, como Hyozo Tashiro, o suposto amante de Kano (aqui devo admitir que não há imparcialidade, mim ser ta-ra-da por esse ator (Asano) desde que o vi também em Zatoichi, então pode ser que ele seja mesmo ótimo, ou pode ser que eu esteja cega pela paixão. XD) e Shinji Takeda, como o capitão Okita Soji , cujo trabalho eu não conhecia, mas que me impressionou consideravelmente.
E o final......ai. Simplesmente perturbador. A sensação de frustração segue o telespectador durante todo o filme, mas o final é a gota d'água. Foi o que mais me marcou, por explicitar tão dolorosamente a tragédia humana, a impossibilidade de união entre amor e poder. Metáforas visuais me enlouquecem de vez em quando, mas essa.....acredito que tenha causado o impacto desejado. Belíssimo. Tanto que inpirou Tarantino na cena do duelo entre a Noiva e O-ren Ishii, em Kill Bill Vol.1, mas essa é outra história.
Nossa....ainda tenho milhares de coisas a dizer sobre esse filme e o texto já está gigante! *chora* Então, pra finalizar (odeio isso), um ponto curioso: o filme foi baseado na novela histórica de Ryotaro Shiba, um dos historiadores mais famosos do Japão, assim, há quem diga que Sozaburo Kano realmente existiu.
Fica a sugestão... não, fica a EXIGÊNCIA. Gohatto é um dos poucos filmes que me fizeram odiá-lo com toda a alma, para logo em seguida amá-lo. É o tipo de sensibilidade que falta no cinema hoje.

Poster Americano


Poster Japonês