domingo, 18 de outubro de 2009

Dead Girl

Às vezes me pego pensando nas milhares de possibilidades que a internet nos traz. Principalmente a possibilidade de ser uma pessoa totalmente diferente do que somos na “vida real”.
Ok, ok... o que é “real”, não é mesmo? Bem...eu tenho uma leve idéia. “Real” é aquilo que nós temos que enfrentar quando nos olhamos no patético espelho do banheiro e nos sentimos tristes ou frustrados diante de nosso próprio reflexo. A realidade é o controle que não temos, é o imprevisível assustador que nos empurra pra lá e pra cá feito marionetes em direção aos deveres e responsabilidades da vida adulta: tudo aquilo que não queremos fazer e ser, mas somos obrigados. E é nesse momento, quando encaramos o real, é que mais nos sentimos sós, como se ninguém no universo inteiro desse a mínima para nossas dúvidas, temores e tristezas.
É aí que eu me pergunto, o que alguém, o que você seria capaz de fazer para apaziguar esse sentimento de abandono tão doloroso? Tão vergonhosamente doloroso? A que ponto chegaria? Você se agarraria a qualquer possibilidade de amor e atenção que lhe fosse apresentada? E se junto a essa possibilidade de ser amado e respeitado, a sensação de poder se mostrasse tão palpável que fosse simplesmente impossível dizer 'não'? O que você faria?
Muito difícil responder a essas perguntas sem as opções de apaziguamento devidamente apresentadas, não é mesmo?
Bem... é exatamente essa a situação a que dois adolescentes são expostos no bizarro (e ainda assim, brilhante) filme de 2008 “Dead girl”, que obviamente não chegou aos cinemas brasileiros, como quase tudo que é inovador e interessante, mesmo sendo absurdamente trash e imoralmente ousado. Retrato fiel da nossa geração, sem sombra de dúvidas.
Dois garotos encontram uma garota zumbi em um hospital psiquiátrico abandonado, como manda o clichê. E então, o que fazer? Correr? Provavelmente... Mas e se a garota em questão estiver amarrada e mais importante ainda...completamente nua? E os dois garotos em questão forem perfeitos exemplos de juventude negligenciada pelos pais e totalmente ignorada e/ou abusada pelos considerados “jovens normais” que habitam o pesadelo sem fim chamado “colegial”? Como agir então... nessas circunstâncias tão peculiares?
É exatamente esse argumento (ou desculpa) não-dita o que leva os dois adolescentes a "manter" a garota meio-morta, cujo corpo já apresenta sinais de decomposição, como escrava sexual por tempo indeterminado durante as quase duas horas de filme. Como uma forma (talvez a única) de exercer a dominação que não lhes é permitida fora dos muros do hospital abandonado, o mundo real.
Chocante? Por incrível que pareça, nem tanto. De todos os filmes teens já assistidos pela minha pessoa (e foram muitos, acreditem) nunca me deparei com um que retratasse tão bem a necessidade dos jovens de hoje de buscarem válvulas de escape para suas frustrações, através de fugas para lugares no mínimo duvidosos, sem qualquer preocupação moral.
Apesar de em momento algum um mísero computador aparecer durante o filme, é simplesmente inegável a relação que podemos estabelecer entre esses dois adolescentes e a “garota morta” quando comparados com a relação pouco saudável que criamos com os universos virtuais a que a internet nos possibilita. Sermos outra pessoa, e mais importante, uma pessoa com poder, parece ser o objetivo principal no ambiente virtual, totalmente dominado por esses jovens, sem censura ou guia. Um pouco assustador, mas um retrato totalmente fiel do nosso desprezo pelos valores estabelecidos por nossos pais. E mesmo já não sendo mais uma adolescente, é estranho que eu ainda consiga sentir isso de maneira tão intensa.
Nossa geração é necessitada, essa foi a conclusão a que cheguei com “Dead girl”. Necessitada de atenção; egocêntrica e completamente desprovida de bom senso. Mas que adolescente não é? Você pode me perguntar. Esse egocentrismo de fato parece característica principal na vida de praticamente todos os jovens, independente da época em que nasceram. A diferença, porém, ao meu ver, está na forma como lidamos com essa carência e com o vazio e a frustração que a realidade nos traz na era da tecnologia e informação.
Nós somos a geração que estupra garotas zumbis pra se sentir melhor. E alguém acabou de se dar conta disso.

"Down here, we have the power..."

PS: obviamente que quem encontrou esse filme bizarro pela net foi a Patrícia, ela é um imã de coisas estranhas... hasuahsuhasuahs adoro. XD

2 comentários:

Patrícia disse...

A mestra disse TUDO! Só esqueceu de dizer que assistiu o filme COMIGO aqui em casa!!! *amiga se sentindo esquecida*

鈴木 美歌 - Suzuki Mika disse...

Aiiii... Fiquei curiosa, fato!
Tá aí mais um pra minha lista 'vou ver nas férias'! *a mais doida que faz lista pra tudo*